Por Jullyana Ranyely Santos – Psicóloga Clínica
O Outubro Rosa é um movimento global de conscientização sobre o câncer de mama que incentiva a prevenção, diagnóstico precoce e cuidado contínuo. Para mulheres autistas e mães atípicas (cuidadoras de pessoas com condições do neurodesenvolvimento), falar de saúde exige um olhar integral: corpo, mente e emoções caminham juntos e barreiras de acesso, tempo e suporte tornam esse cuidado ainda mais desafiador.
“Cuidar do corpo é um ato de amor. Cuidar da mente sustenta esse amor todos os dias.”
Surgiu na década de 1990, quando laços cor-de-rosa começaram a ser distribuídos em eventos de corrida nos Estados. Unidos como símbolo de luta e solidariedade pelo cuidado com as mulheres. Desde então, tornou-se uma campanha global de informação, autocuidado e empoderamento feminino, chamando atenção não apenas para o exame preventivo, mas para a importância de uma postura ativa e consciente diante da própria saúde.
Contudo, cuidar da saúde da mulher vai muito além de realizar exames: envolve reconhecê-la como um ser integral, em que corpo, mente e emoções estão profundamente conectados.
O que o Outubro Rosa representa
O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo. No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA, 2024), ele representa cerca de 30% dos casos novos de câncer diagnosticados anualmente. Apesar dos números, as chances de cura ultrapassam 95% quando o diagnóstico é feito precocemente, reforçando a importância de ações preventivas e de acompanhamento médico regular.
A mamografia, exame fundamental para detecção precoce, é recomendada a partir dos 40 anos, conforme orientação médica, e deve ser acompanhada de autoconhecimento corporal e hábitos saudáveis.
No entanto, o Outubro Rosa não se limita à realização de exames. Ele é um convite à consciência e à gentileza consigo mesma. O autocuidado feminino é multifatorial e inclui:
- Alimentação equilibrada e adequada às necessidades do corpo;
- Prática regular de atividade física;
- Manejo do estresse e preservação do sono;
- Atenção à saúde mental, fundamental na prevenção e enfrentamento das
- doenças.
A campanha lembra que prevenir é cuidar do presente e preservar o futuro.
Mulheres autistas: saúde integral e desafios invisíveis
Mães autistas vivem uma maternidade atravessada por desafios sensoriais, sociais e de ansiedade, mas também por forças singulares como realismo, atenção ao detalhe e criatividade que as tornam excelentes cuidadoras. Para que a saúde acompanhe esse papel, é essencial entender os desafios diários:
- Diagnóstico tardio e camuflagem social elevam ansiedade e exaustão.
- Barreiras sensoriais/comunicacionais dificultam consultas e exames preventivos (luzes intensas, ruídos, contato físico inesperado ou profissionais despreparados)
- Maior evitação de rastreamentos (mamografia/Papanicolau) por experiências negativas ou falta de adaptação.
O cuidado integral, nesses casos, começa pela escuta: compreender as particularidades de cada mulher é o primeiro passo para tornar o cuidado acessível e humano. Como incluir de verdade na saúde:
- Ambiente clínico previsível e acolhedor (explicar etapas; reduzir estímulos).
- Comunicação clara e tempo para responder.
- Profissionais sensibilizados para diferenças neurológicas.
Mães atípicas: o cuidado que também precisa de cuidado
Cuidar de uma pessoa neurodivergente envolve rotinas intensas e vigilância constante. Entre terapias, consultas, compromissos escolares e demandas domésticas, muitas acabam deixando o próprio corpo e mente em segundo plano. O ritmo acelerado e a constante vigilância sobre o bem-estar dos filhos criam um ciclo de exaustão física e emocional.
Pesquisas indicam que essas mães apresentam índices elevados de ansiedade, depressão e fadiga, além de sintomas físicos relacionados ao estresse crônico, como dores musculares, distúrbios do sono, tensão constante e queda de imunidade. Além da sobrecarga, há um aspecto emocional frequentemente negligenciado: a sensação de solidão e culpa, acompanhada pela ideia de que o próprio descanso é um ato egoísta.
No entanto, o autocuidado dessas mães não é luxo, é necessidade vital. Cuidar de uma pessoa neurodivergente é um ato de amor profundo, mas exige uma rede que também cuide de quem cuida. O que ajuda na prática:
- Psicoterapia e grupos de apoio;
- Pausas reais ao longo do dia;
- Rede ativa (divisão de tarefas; escola e clínica alinhadas);
- Políticas públicas que assegurem suporte psicológico, social e institucional.
“Quando a mãe é cuidada, toda a rede se fortalece.”
O Outubro Rosa é um lembrete importante de “Cuidar do outro começa com cuidar de si mesma.”
O movimento Outubro Rosa propõe que cada mulher, dentro das suas possibilidades, dê um passo concreto em direção ao próprio bem-estar:
- Agende seus exames e acompanhe com seu médico.
- Cuide da saúde mental com psicoterapia: organize pausas, sono e momentos de silêncio.
- Planeje hábitos: alimentação, movimento, redução de estresse.
- Peça ajuda, cuidar de si não é egoísmo, é sustentabilidade do cuidado.
Corpo e mente: a mesma causa
A ciência comprova que o estado emocional influencia diretamente o funcionamento físico. Estresse crônico, privação de sono e sobrecarga emocional afetam hormônios e imunidade, aumentando risco de adoecimento. Cuidar da saúde mental é, também, prevenção em saúde física e vice-versa.
Prevenir o câncer de mama passa por construir hábitos saudáveis, fortalecer redes de apoio e buscar ajuda quando necessário. Cada exame, cada pausa e cada conversa representam uma escolha consciente de preservar a vida e reafirmar o próprio valor. Eu também mereço cuidado.
Onde buscar ajuda e informações (Estado de São Paulo)
- UBS: primeiro atendimento, encaminhamentos e mamografia pelo SUS.
- Programa Mulheres de Peito: mamografia gratuita (unidades fixas e carretas móveis).
- Poupatempo SP: agendamentos de exames pelo app/site.
- Programa Saúde da Mulher Paulista: integra prevenção, diagnóstico e cuidado contínuo.
Em caso de dúvidas, procure a Secretaria Municipal de Saúde ou o site do Governo do Estado de SP para campanhas e locais atualizados. Cuidar da saúde é um direito. Buscar informação é o primeiro passo para garantir acesso e prevenção.
O papel do Instituto Paulinho Reis
No IPR, unimos saúde física e saúde emocional com acolhimento, linguagem acessível e acreditamos que o cuidado integral precisa ser acessível, inclusivo e humano. Apoiamos mulheres autistas, mães atípicas e famílias para que ninguém caminhe sozinha em sua jornada de prevenção e autocuidado.
Nosso compromisso é fortalecer redes de cuidado entre clínica, escola e casa e lembrar que nenhuma mulher deve caminhar sozinha em sua jornada de prevenção e autocuidado.
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