Neste Dia das Crianças, quero refletir sobre algo fundamental: o direito de toda criança ser criança. Vivemos em um mundo cada vez mais acelerado, onde, desde cedo, nossas crianças são levadas a se adaptar a expectativas que, muitas vezes, refletem o ritmo da vida adulta, e, assim, podem acabar perdendo a essência da infância.
A Infância de Crianças Atípicas
Para as crianças atípicas, a infância apresenta diferentes desafios. Suas rotinas são repletas de terapias, acompanhamentos e intervenções. Enquanto esses cuidados são essenciais para o desenvolvimento, é comum que elas sejam vistas apenas através do prisma do diagnóstico. Porém, é importante lembrar que por trás de todas essas atividades, há uma criança com desejos, sonhos e o direito de brincar, de explorar o mundo de forma lúdica, com liberdade e alegria.
Para os pais de crianças atípicas, a jornada é cheia de questionamentos e responsabilidades. As perguntas constantes — “Estou fazendo o melhor? Estou no caminho certo?” — são movidas pelo desejo profundo de acertar. E embora seja inevitável a preocupação com cada passo, é importante permitir que, além das terapias, essas crianças tenham tempo para simplesmente serem crianças, e que os pais também possam, com carinho, desfrutar dessa fase tão preciosa e que passa tão rápido.
E Nas Famílias Típicas?
Mesmo para as crianças com desenvolvimento neuro-típico, vemos, em nossa sociedade, uma tendência de antecipação. Não são raras vezes os pais procuram o ensino fundamental já pensando no vestibular. É um ciclo de cobranças que não permite às crianças o espaço necessário para o desenvolvimento natural. Elas se adaptam à pressão, mas a que custo? Ansiedade, estresse e um senso de competitividade, as vezes desmedido, tornam-se parte de suas vidas muito cedo.
E tudo isso vem de uma intenção genuína dos pais de garantir o melhor futuro para os filhos, mas é preciso cuidado e atenção com os excessos. Pode até ser “engraçadinho” ver os filhos como “mini adultos” na maneira como se vestem, falam e agem, mas isso nem sempre terá uma consequência positiva no futuro.
Projetamos em nossas crianças, talvez sem perceber, a mesma busca incessante que, como adultos, enfrentamos — por diplomas, carreiras e realizações. No entanto, ao longo dessa trajetória, muitos de nós percebemos que o que mais desejamos, no fim das contas, é qualidade de vida. Por que não permitir que nossos filhos vivam isso desde já? Brincar, explorar o mundo com curiosidade e leveza, sem tantas pressões, pode ser o maior presente que podemos dar a eles.
A Infância no Mundo Digital
Nos dias de hoje, há um novo elemento que vem ocupando cada vez mais espaço na vida das crianças: o mundo digital. Tablets, celulares e videogames estão presentes em quase todos os lares e o acesso constante a esses dispositivos acaba competindo com a atenção dos pais e com as brincadeiras que costumavam envolver toda a família. As brincadeiras de roda, os jogos de tabuleiro e as conversas à mesa muitas vezes são substituídos por momentos em que as crianças estão sozinhas, imersas em uma tela.
É compreensível que, em meio à correria do dia a dia, os pais encontrem nesses momentos de “distração” digital uma chance para descansar. No entanto, é importante refletir sobre o equilíbrio. Embora a tecnologia possa trazer benefícios e diversão, ela também pode criar um distanciamento emocional, afastando as crianças das interações reais e familiares que são fundamentais para o seu desenvolvimento. Além disso, a profundidade dos conteúdos que elas acessam nem sempre é conhecida pelos pais, o que gera mais um desafio para garantir que essas experiências sejam saudáveis e seguras. Voltar-se para brincadeiras em família, momentos de convivência e diálogos próximos pode ser uma forma valiosa de recuperar o tempo de qualidade com nossos pequenos.
Um Chamado à Reflexão
A infância não é apenas uma preparação para o futuro. É uma fase única, que merece ser vivida no presente, com toda sua alegria e simplicidade. Como pais, queremos o melhor para nossos filhos, mas é importante lembrar que cada criança tem seu próprio tempo e sua própria maneira de florescer, seja ela típica ou atípica.
Com amor, respeito e apoio, as crianças podem alcançar seu pleno potencial, não porque estão sendo moldadas para um futuro distante, mas porque estão sendo acolhidas no presente, exatamente como são.
Neste Dia das Crianças, que possamos parar por um momento e enxergar nossos pequenos como eles são — crianças — e garantir que tenham o espaço para viver essa fase tão importante e mágica de suas vidas.
Por Andreia Alves
Diretora Executiva