A maternidade, por si só, já é um caminho repleto de desafios. No entanto, quando uma mãe se depara com o diagnóstico de um filho atípico, essa jornada ganha contornos ainda mais complexos. Dentre as inúmeras decisões difíceis que surgem, talvez uma das mais profundas e transformadoras seja a escolha entre continuar trabalhando ou deixar a carreira em segundo plano para dedicar-se integralmente àquele ser humano que dependerá imensamente dos seus cuidados.
Essa escolha muitas vezes não é motivada apenas por questões financeiras ou profissionais, mas também pela necessidade emocional de estar presente em cada etapa do desenvolvimento do filho. Para mães de crianças atípicas, essa decisão envolve um equilíbrio delicado entre o sentimento de culpa por “não estar lá o suficiente” e o desejo de manter uma carreira, uma identidade própria e uma vida além da maternidade.
O Peso por Trás da Decisão
Deixar de trabalhar para cuidar do filho pode parecer uma escolha natural para algumas mães, especialmente quando os desafios do desenvolvimento demandam atenção intensiva. No entanto, essa decisão vem acompanhada de uma série de questões emocionais. Para muitas, a carreira não é apenas uma fonte de renda, mas uma parte fundamental de quem elas são. Renunciar a isso pode trazer uma sensação de perda de identidade, de afastamento de sonhos e projetos construídos ao longo dos anos.
Por outro lado, seguir com os objetivos profissionais também pode provocar sentimentos de culpa, como se o tempo dedicado ao trabalho estivesse sendo “retirado” do filho. Mães de crianças atípicas muitas vezes sentem que precisam estar presentes para garantir que seus filhos recebam o suporte necessário e, principalmente, para assegurar que eles sejam compreendidos e respeitados em suas individualidades.
A Realidade do Cuidado
O papel da mãe atípica vai muito além do que pode ser visto de fora. O dia a dia é intenso, cheio de consultas, terapias, escolas especializadas, complexidades financeiras, disputas com planos de saúde e, muitas vezes, crises emocionais. É um trabalho contínuo, exigindo uma atenção que não permite “pausas”. Isso faz com que, em muitos casos, a única opção possível pareça ser a dedicação total.
Por outro lado, seguir trabalhando pode ser uma forma de garantir um futuro melhor para o filho. A estabilidade financeira é fundamental, especialmente em um cenário onde os cuidados especializados, terapias e tratamentos são constantes — e, na maioria das vezes, permanentes.
Além disso, para algumas mães, continuar no mercado de trabalho é também uma forma de autocuidado — um espaço onde podem se sentir valorizadas, produtivas e conectadas com outras áreas da vida.
O Impacto nas Relações e na Saúde Mental
Outro aspecto que não pode ser ignorado é o impacto dessa decisão nas relações familiares e na saúde mental da mãe.
As pressões gerais podem levar ao esgotamento físico e psicológico, afetando a qualidade do relacionamento com o parceiro e, muitas vezes, com o próprio filho.
O equilíbrio entre carreira e maternidade, quando possível, pode ser uma maneira de manter a saúde mental da mãe em níveis mais saudáveis, enquanto para outras pode ser exatamente o oposto, a obrigação de seguir trabalhando pode ser extenuante e embora as mães pareçam “super mulheres”, vem o desgaste, o cansaço e a perda da qualidade de vida.
Algumas mães conseguem fazer essa escolha com convicção e se sentem bem com isso, enquanto outras se sentem pressionadas a escolher entre dois mundos. E ainda há aquelas que conseguem, ou ao menos tentam, encontrar um meio-termo.
Encontrando o Próprio Caminho
Não existe uma resposta certa ou uma solução única. Cada família é diferente, e cada mãe conhece suas necessidades e possibilidades.
Vivemos em uma sociedade cheia de julgamentos. Se a mãe segue a carreira, é criticada por não dedicar tempo integral ao filho. Se abandona a carreira, embora para muitos pareça a escolha correta, outras pressões surgem — sejam financeiras ou até mesmo a desvalorização pelo próprio companheiro ao longo do tempo.
No mundo ideal, a mãe deveria escolher o caminho que funcione melhor para si e para o seu filho. Que sua decisão pudesse ser tomada com amor, compreensão e sem pressões externas. Nem sempre, porém, é possível seguir apenas o coração. Quando a decisão é tomada com base em necessidades que contrariam suas vontades, a frustração e o estresse podem ser prejudiciais à saúde física e mental.
Redes de apoio, como família, amigos e profissionais especializados, podem fazer uma grande diferença.
Além disso, muitas empresas estão começando a oferecer opções de trabalho flexíveis, o que pode ser uma alternativa para aquelas que não querem (ou não podem) abrir mão completamente de suas carreiras.
O Mais Importante: O Respeito às Escolhas
A força das mães é extraordinária e, onde quer que elas consigam canalizar suas energias, o resultado é sempre algo cheio de amor e propósito. O mais importante é não julgar outras mães que tenham escolhas diferentes da sua e não se deixar julgar, porque ninguém conhece seus sonhos, dores e necessidades da mesma forma que você. Cada jornada é única e digna de respeito.
Portanto, seja qual for a sua escolha, lembre-se: o seu jeito é o jeito certo!
Artigo escrito por: Andreia Alves, Diretora Executiva do Instituto Tonioli.