A Adolescência no Autismo: Desafios e Descobertas

Por Andreia Alves – Diretora Executiva do Instituto Paulinho Reis

A adolescência é, por si só, um período desafiador para qualquer jovem e suas famílias. Quando se trata de adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA), os desafios aumentam, trazendo consigo dúvidas, inseguranças e descobertas que exigem muito mais acolhimento, respeito e presença de todos os envolvidos. Esse período é marcado por mudanças intensas, que envolvem não só o corpo, mas também as emoções, as relações sociais e a busca crescente por autonomia.

No entanto, a sociedade ainda enfrenta grandes desafios quando se trata de lidar com a neurodivergência. Felizmente, ao longo dos anos, temos testemunhado avanços significativos em compreensão, empatia e conhecimento sobre o autismo, mas ainda há muito a ser feito. Por isso, é fundamental discutir como apoiar esses adolescentes de maneira eficaz e respeitosa, oferecendo as ferramentas certas para que eles possam navegar por esse momento de transição de forma segura e digna.

Desafios na Adolescência com TEA
Na infância, a neurodivergência muitas vezes é mais evidente, e os pais, educadores e terapeutas têm um papel ativo em identificar e lidar com as características do autismo. Porém, à medida que as crianças com TEA entram na adolescência, os desafios começam a se tornar mais complexos.

Muitos pais podem observar mudanças de comportamento: crianças calmas podem se tornar mais reativas, e os que já apresentavam avanços parecem dar “passos para trás”. Esse fenômeno pode ser atribuído a vários fatores, como:

Mudanças hormonais e neurológicas próprias da adolescência;

Crescimento da consciência social, que pode gerar frustrações e comparações;

Maior cobrança por independência e adequação às normas sociais;

Conflitos internos entre querer mais liberdade e ainda precisar de apoio.

Essas mudanças afetam diretamente a comunicação. A falta de uma comunicação funcional, com ou sem a ajuda de formas alternativas, pode resultar em frustração para o jovem e para os familiares. Além disso, o risco de violência emocional ou até física se torna um ponto de preocupação. Por isso, é essencial que as famílias estejam atentas às necessidades emocionais e comunicativas dos adolescentes.

Como Podemos Apoiar Nossos Adolescentes Autistas?
A primeira coisa a entender é que regressões temporárias são comuns e não apagam os avanços já conquistados. Mudanças de humor, aumento da rigidez comportamental e crises emocionais podem fazer parte do processo natural da adolescência, mas devem ser abordadas com paciência e empatia. Para apoiar esse processo de forma saudável e construtiva, algumas estratégias podem ser aplicadas:

Compreender as Regressões Temporárias: Ao invés de focar nas regressões, é importante observar as mudanças de forma compreensiva, entendendo o que está por trás delas.

Falar Sobre Corpo e Emoções: Adolescentes autistas também precisam de educação emocional e sexual. A forma como falamos sobre esses temas deve ser clara, respeitosa e adaptada às necessidades de compreensão do jovem.

Apoiar a Autonomia: A busca por independência começa a surgir com mais força na adolescência, e isso deve ser respeitado. Pequenos passos, como tomar decisões diárias e se responsabilizar por algumas atividades, podem ser incentivados com segurança e adaptação.

Fortalecer a Autoestima: A adolescência é uma fase em que as comparações se tornam mais intensas. Muitos adolescentes autistas percebem suas diferenças, mas ainda não sabem como lidar com isso. É essencial reforçar suas conquistas, habilidades e interesses, além de proporcionar momentos de validação emocional.

Buscar Apoio Especializado: Nesse momento, as terapias convencionais podem dar espaço a intervenções mais funcionais e práticas, como as Atividades de Vida Diária (AVDs). Também é importante oferecer saídas terapêuticas, como ir ao cinema, ao supermercado, ou praticar atividades recreativas que favoreçam a interação social.

Prevenir o Bullying e a Discriminação: O bullying é um dos maiores desafios enfrentados por adolescentes autistas. Portanto, a vigilância constante e a criação de ambientes seguros, como escolas e centros terapêuticos, são fundamentais para prevenir o sofrimento emocional.

O Papel da Família na Adolescência Atípica
As famílias desempenham um papel vital no processo de adaptação e crescimento dos adolescentes com TEA. Elas são o ponto de apoio contínuo e devem estar preparadas para oferecer compreensão, suporte emocional e buscar alternativas para o desenvolvimento contínuo de seus filhos.

O Instituto Paulinho Reis acredita que o apoio não é apenas para a criança, mas também para a família. Nossa abordagem de acolhimento inclui orientações e acompanhamento contínuo para os pais, proporcionando-lhes as ferramentas necessárias para lidar com os desafios da adolescência no contexto do autismo.

A Adolescência Como Uma Oportunidade de Crescimento
Sim, a adolescência no autismo pode ser um período desafiador. No entanto, também é uma fase de grandes descobertas, crescimento e fortalecimento de vínculos. Quando há espaço para ser quem se é — com respeito pelas diferenças e pelas necessidades — essa fase deixa de ser um campo de medo e passa a ser um campo de possibilidades.

Com amor, paciência e uma rede de apoio sólida, qualquer família pode enfrentar essa fase com confiança. O objetivo é criar um ambiente de apoio, onde as particularidades sejam respeitadas e celebradas, permitindo que o jovem autista se desenvolva de forma plena e saudável.

No Instituto Paulinho Reis, nossa missão é ajudar as famílias a percorrer esse caminho de superação, sensibilidade e potência, sempre com o apoio de uma equipe especializada e dedicada.